Quem fala?

Aqui sou a Sal. 

O sal que falta nos vossos dias, o sal que dá o sabor aos vossos petiscos, o sal que tempera os oceanos.

Na vida real, quando me pedem para falar sobre mim, acho sempre mais interessante pedir a alguém que fale de mim. Às vezes sabe bem ouvir elogios. Outras calha-me um monte de críticas, que ouço e finjo que aceito sem pensar muito no assunto.

Pensativa, isso sei que sou. Aliás, sou melhor a pensar do que a falar. 

Sou o tipo de pessoa que sente tudo e não diz nada. E depois admiro-me que as pessoas não saibam nada do que me vai cá dentro. Eu só acho que podiam adivinhar, supor, simplesmente saber sem eu ter de lhes dizer. Eu chego mesmo a achar que sabem tudo o que eu penso, quando, afinal, a única a saber sou eu.

Mas se há coisa que eu sei, é que as palavras valem milhões. E os gestos, biliões. 

Por alguma razão, confio mais nas palavras do que em mim. As palavras são como o algodão: não enganam. E eu engano-me. Tirando hoje, é todos os dias. 

Estão a ver? Quando me ponho a falar de mim, acabo a falar em algodão. É melhor ficar por aqui!